terça-feira, 20 de outubro de 2009

A importancia de ser criança


Nascer, crescer, reproduzir, morrer. Cada momento do ciclo da vida tem uma importância definida. Mas, sem dúvida, a infância é o período mais representativo da formação do ser humano. "É nessa fase que o futuro adulto se constitui. Viver uma boa infância significa passar de forma saudável física e mentalmente para a fase adulta", explica a psicoterapeuta infantil Ana Olmos.

Brincar, fazer amizades, se divertir mas também ter obrigações; Ana conta que até deixar o filho passar por frustrações é importante. "É esse aprendizado que faz com que o adulto aprenda a lidar com vitórias, mas também com derrotas".

Conviver com os pais no dia a dia também é um importante fator de formação, mas que, por causa da correria e da falta de tempo comum aos moradores dos centros urbanos, se torna uma atividade cada vez mais rara.

"Muitas vezes os pais não conhecem os próprios filhos, que são formados principalmente pela cultura de massa", conta Solange Jobim, professora do departamento de Psicologia da PUC do Rio de Janeiro. Apesar de não existir uma fórmula milagrosa, a professora explica que a presença dos pais, entre outras ações como o acesso à diversidade cultural e aos diferentes ambientes lúdicos, incentivam o desenvolvimento da criatividade e, consequentemente, da personalidade da criança.

"A fantasia é indispensável à formação, mas ela tem que ser estimulada. Não basta ligar a televisão e colocar o filho para assistir. Tem que haver um diálogo direto com a criança. E, mais importante, os pais têm de filtrar o que é bom e o que é ruim", afirma Solange.

Infância dura

E se uma criança não tiver uma infância propriamente dita? Se por causa das intempéries da vida ela tenha sido obrigada a passar seus dias em sinais de trânsito vendendo balas ou em uma carvoaria no interior do país, trabalhando desde pequena? Essa realidade não é difícil de ser encontrada. Basta sair de casa para ver pequenos zanzando pelas ruas sem a supervisão de um adulto, em busca de um "trocado" ou vendendo algo.

Nesse caso, a fantasia de ser criança dá lugar ao excesso de responsabilidades, o medo de não ter o que comer, o receio de não ter onde dormir. "A infância se torna uma batalha a ser vencida. E a mente, em vez de ser ocupada por brincadeiras e fantasias, é inundada por preocupações que normalmente pertenceriam apenas à mente de adultos", explica Ana.

De acordo com a psicoterapeuta, ser responsável pela própria sobrevivência não é algo que deveria fazer parte do universo infantil, e o resultado pode ser desastroso. "O caminho natural da privação é a deliquência. E nesse caso, não só a criança perde. Aí toda a sociedade acaba vítima da falta de infância de uma criança de rua. O resultado é um mundo cada vez mais violento", conta Ana.

Um outro mundo possível

"Só quem sentiu na própria pele entende o que é passar frio, estar à mercê do perigo e não ter o que comer por dias". O relato é de Airton da Costa, advogado da prefeitura de Diadema (SP) que viveu boa parte da vida nas ruas.

Nascido em uma família pobre de Lins (SP), apesar de ter uma casa, Airton e seus irmãos preferiam desde pequenos passar os dias e as noites nas ruas. "Passávamos meses fora de casa. Era melhor por causa do meu pai, que era alcoólatra", explica. "Infância eu não tive. A cabeça nunca estava ocupada com coisas de criança. Em vez de fantasias, eu me preocupava em catar papelão e pedir esmola para sobreviver. Isso não é ter infância".

Mesmo com todas as dificuldades, diferentemente de seus irmãos, que se envolveram com drogas e sofrem hoje com sequelas, Airton frequentou a escola. Em busca de comida nos lixos, ele aproveitava para procurar cadernos com folhas em branco, que usava na sala de aula. "Enquanto meus amigos brincavam de bola eu sonhava em ser advogado. Desde pequeno eu sabia o que queria".

Aos 37 anos, com a ajuda do financiamento estudantil, Airton conseguiu entrar na faculdade de Direito. Hoje, aos 44 anos, casado com Maria Minervina e pai de duas meninas - Natália, 15 e Taís, 17 - ele faz questão de que suas filhas não passem necessidade. "Dei tudo para que elas tivessem uma infância saudável e continuo dando. Não só amor, carinho, diversão e comida mas também obrigações. Elas têm que aprender a dar valor à vida".

Como os pais devem agir para os filhos terem uma infância mais saudável

*Não basta colocar na escola ou pagar uma babá para vigiar os filhos. Uma infância bem vivida depende muito mais das atitudes dos pais do que de qualquer outro fator

*Diga não à super-proteção. Dentro dos limites, garanta a seus filhos liberdade de ir e vir e de tomar decisões.


*Varie nas brincadeiras. Em vez de fornecer apenas brinquedos fabricados, incentive brincadeiras ao ar livre ou com brinquedos artesanais. Isso contribuirá para o desenvolvimento da fantasia e da criatividade do seu filho.

*Participe. Estar presente e ser ativo na vida dos pequenos faz uma grande diferença na formação do ser. Dar atenção, jogar conversa fora, ter momentos simples e duradouros no dia-a-dia são formas de se aproximar.

*Deixe a frustração acontecer. Assim como aprender a lidar com vitórias e conquistas, é indispensável para a criança aprender a lidar com frustrações e perdas.

*Diminua o acesso à televisão e ao computador. Em vez de um joguinho de computador ou um desenho animado na televisão, incentive a leitura, o teatro, o cinema, fortes aliados na formação cultural e criativa da criança.



Por Ana Paula Galli

FONTE : http://br.noticias.yahoo.com/s/19102009/48/manchetes-importancia-crianca.html

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